11 de maio é dia da Retirada dos Caiapós do Mato. A cerimônia é realizada tradicionalmente no antepenúltimo dia da Festa de São Benedito, neste sábado, 11 de maio, às 15h, tendo como cenário a Fonte dos Amores, aos pés da Serra de São Domingos, e resgata o encontro entre negros e indígenas. Teatralmente, a retirada representa o encontro de um grupo de caiapós com os ternos de Congo.
De acordo com o Dossiê de Registro do Bem Imaterial Festa de São Benedito de Poços de Caldas, elaborado pela Divisão de Patrimônio Construído e Tombamento da Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, “os Congos com seus tambores e demais instrumentos vão buscar os Caiapós que estão previamente escondidos na mata e levam-nos até a imagem de São Benedito”.
A história representada relembra o momento em que os negros, em retribuição à acolhida dos indígenas durante suas fugas, vão até a mata para convidá-los para a Festa de São Benedito. A celebração é um dos momentos mais emocionantes e significativos da programação cultural da Festa de São Benedito. Após a “retirada”, os Caiapós e os Ternos de Congos percorrem as ruas centrais da cidade até a Igreja de São Benedito.
“A Retirada dos Caiapós do Mato significa compartilhamento, um agradecimento dos negros aos índios que sempre deram acolhida aos escravos, foragidos das senzalas, machucados e com fome. O índio sempre foi um protetor dos negros fugidos, dava acolhida, curava e alimentava. Existe uma troca muito linda da coroa e do cocar, que é o símbolo maior do poder dos Caiapós. Essa troca significa igualdade”, explica Ailton Santana, o Mestre Bucha, em depoimento ao documentário “13 de Maio – A Festa de São Benedito, fragmentos de uma história”, idealizado pela Criativa Idade Sistema Educacional e produzido pela Takes Filmes, sob direção de China Trindad.
Segundo a escritora Nilza Botelho Megale (2002, p. 145), “os dançadores usam saias compridas de capim, camisas cobertas de penas de galinha, pulseiras nos braços e artelhos, colares de contas e levam nas mãos: arcos, flechas e espadas de pau, que batem para marcar o ritmo. (…) Eles não cantam nem falam, apenas se comunicam por meio de gestos, pois os indígenas não compreendiam a língua portuguesa. (MEGALE, Nilza Botelho. Memórias Históricas de Poços de Caldas. 2ª Edição. Poços de Caldas: Sulminas, 2002, p. 145).
Em suas Memórias Históricas de Poços de Caldas, a historiadora, museóloga e folclorista grava o registro da manifestação como retirada dos caiapós “da mata” (p. 147). Já a pesquisadora Maria José de Souza, a Tita, em Reinado e Poder no Sul das Minas Gerais, registra como “Retirada dos Caiapós do mato” (p. 118), forma mais usual entre os congadeiros e caiapós.
A Retirada dos Caiapós integra a programação cultural da Festa de São Benedito, junto ao Dia de Santa Cruz (3 de maio) e às celebrações de 13 de maio, que incluem missa e procissão. A Secretaria Municipal de Cultura agradece a Citur pela cessão da Fonte dos Amores para a realização da tradicional manifestação.
Dia do Caiapó
Celebrado pela primeira vez em 2022, 11 de maio foi escolhido como o “Dia Municipal do Caiapó”. A data foi instituída por meio da Lei 9.490, de 6 de outubro de 2021, substituída pela Lei no 9.620, de 24 de agosto de 2022, que dispõe sobre o calendário comemorativo e de eventos do município de Poços de Caldas, como forma de valorização da cultura popular e da memória de um de seus maiores expoentes, Seu Pedro Caiapó. Além da tradicional Retirada dos Caiapós da Mata um almoço festivo vai reunir caiapós e congadeiros para celebrar a data.
Pedro Caiapó
Pedro Antônio Ramos – Pedro Caiapó – nasceu em 28 de dezembro de 1931 e faleceu em Poços de Caldas, no dia 15 de dezembro de 2013. Sua história está disponível no projeto que originou a Lei 9.490 (neste link https://pocosdecaldas.siscam.com.br/arquivo?Id=64476), a partir da obra “A dança dos Caiapós: Artistas e festas populares”, de Murilo de Carvalho e outros autores.
Foi Tuxaua ou Morubichaba (chefe temporal) do Grupo de Caiapós por 40 anos. Segundo o texto, “era filho de João Antônio Ramos e de Maria Rita de Jesus, não conheceu a mãe que faleceu quando ainda era bebê e, do pai, guarda poucas lembranças porque também faleceu cedo, assim, foi criado pelas irmãs, único homem entre seis mulheres (…). No começo dos anos 80, em Poços de Caldas, Pedro trabalhou como ajudante de pedreiro na construção do Conjunto Habitacional ‘Dr. Pedro Afonso Junqueira’, que foi concluído em 1983. Depois de terminada a obra, ele passou a trabalhar nessa profissão e parou de peregrinar em busca de trabalho, fixando residência em Poços de Caldas. Morando ou se mudando por bairros diferentes, em casas alugadas, até que se fixou definitivamente no Bairro São José. (…) Do casamento os filhos: Eduardo, Maria Lúcia, Nilcinei, Nivaldo, Itamara, Aldo, Hélio Donizete”. (CARVALHO, Murilo et al. “A dança dos Caiapós”: Artistas e festas populares. Rio de Janeiro. Editora Brasiliense, 1977, p. 43-49).
Em “Reinado e Poder no Sul das Minas Gerais”, a professora Maria José de Souza registra a fala de Seu Pedro Caiapó “(…) quando os nego fugia pras matas, os índio ajudava eis. Aí, quando veio a liberdade, eis num esquecero daqueis que havia ajudado e foro lá buscá eis pra festança” (SOUZA, Maria José de. Reinado e Poder no Sul das Minas Gerais. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2015, p. 117).
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